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Farmacogenética em Saúde Mental: A Chave para Tratamentos Personalizados Por Dra. Rochelle Marquetto

  • Writer: Rochelle Marquetto
    Rochelle Marquetto
  • Sep 23, 2024
  • 4 min read

Nos últimos anos, a saúde mental tem sido um tema amplamente discutido, com mais pessoas reconhecendo a importância de cuidar de sua saúde emocional e buscando tratamentos adequados. Contudo, um desafio contínuo enfrentado pelos psiquiatras e pacientes é encontrar a medicação certa para cada pessoa. Isso porque o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro, levando a um processo de tentativa e erro que pode ser frustrante e prolongado.


É nesse cenário que a farmacogenética surge como uma inovação promissora. Mas o que exatamente é farmacogenética e como ela pode revolucionar os tratamentos em saúde mental?


O que é Farmacogenética?


A farmacogenética é o estudo de como as variações genéticas de uma pessoa influenciam a forma como seu corpo responde a medicamentos. Em termos simples, nossos genes desempenham um papel crucial na maneira como metabolizamos e reagimos a diferentes substâncias, incluindo os medicamentos psicotrópicos, como antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor.


Com base em testes genéticos, os profissionais de saúde podem prever como o corpo de um paciente metabolizará certos medicamentos e como ele poderá responder a eles. Isso permite uma abordagem mais precisa e individualizada para o tratamento de transtornos mentais.


O Desafio da Prescrição de Medicamentos Psicotrópicos


Na prática psiquiátrica, um dos maiores desafios é a variabilidade das respostas aos medicamentos. A mesma medicação antidepressiva, por exemplo, pode ser extremamente eficaz para uma pessoa, mas pode causar efeitos colaterais intoleráveis ou não apresentar melhora alguma em outra.


Essas diferenças na resposta aos medicamentos são frequentemente influenciadas por fatores genéticos. Por exemplo, enzimas hepáticas, como as do sistema do citocromo P450 (CYP), são responsáveis por metabolizar muitos medicamentos usados no tratamento de transtornos mentais. Algumas pessoas possuem variantes genéticas que fazem com que metabolizem esses medicamentos de forma mais lenta (metabolizadores lentos), enquanto outras podem metabolizar rapidamente (metabolizadores rápidos). Isso pode levar a superdosagem ou subdosagem, mesmo que a dose prescrita esteja dentro da faixa recomendada.


Como Funciona a Farmacogenética na Prática?


Com um simples teste de saliva ou sangue, podemos identificar variações genéticas que influenciam a maneira como uma pessoa processa medicamentos. Esses testes são especialmente úteis para prever a resposta a medicamentos psicotrópicos, como:


  • Antidepressivos (como fluoxetina, sertralina, escitalopram)

  • Antipsicóticos (como risperidona, olanzapina, quetiapina)

  • Estabilizadores de humor (como lítio e lamotrigina)


Por meio do teste farmacogenético, podemos classificar os pacientes em três categorias:


  1. Metabolizadores normais: Aqueles que processam o medicamento de maneira esperada.

  2. Metabolizadores lentos: Aqueles que metabolizam a medicação mais devagar, o que pode aumentar o risco de efeitos colaterais.

  3. Metabolizadores rápidos: Aqueles que eliminam a medicação rapidamente, muitas vezes necessitando de doses mais altas para obter efeito terapêutico.


Com essas informações em mãos, o psiquiatra pode ajustar as doses ou escolher medicamentos que tenham menos chance de causar efeitos colaterais ou de ser ineficazes, evitando o processo longo e frustrante de "tentativa e erro".


Benefícios da Farmacogenética para a Saúde Mental


  1. Maior precisão no tratamento: Ao compreender como os genes de um paciente influenciam a resposta aos medicamentos, o tratamento pode ser mais direcionado e eficaz.

  2. Redução de efeitos colaterais: Medicamentos mal metabolizados podem causar uma série de efeitos colaterais desagradáveis, como ganho de peso, sedação ou disfunção sexual. A farmacogenética ajuda a minimizar esses riscos.

  3. Redução no tempo de resposta: Ao escolher a medicação mais adequada desde o início, podemos reduzir o tempo que os pacientes levam para sentir melhora em seus sintomas, o que é crucial para doenças graves como depressão e transtorno bipolar.

  4. Evitar medicações ineficazes: Alguns pacientes podem ter variantes genéticas que os tornam não responsivos a certas medicações. Saber isso desde o início evita frustrações e perdas de tempo com tratamentos que não funcionarão.


Limitações e Considerações


Embora a farmacogenética seja uma ferramenta poderosa, é importante entender que ela não substitui completamente a avaliação clínica tradicional. Outros fatores, como idade, estilo de vida, presença de outras doenças e interações medicamentosas, também desempenham um papel crucial na resposta ao tratamento.

Além disso, os testes farmacogenéticos ainda não estão amplamente disponíveis em todos os sistemas de saúde, e seu custo pode ser uma barreira em alguns contextos.


O Futuro da Psiquiatria Personalizada


A farmacogenética é um passo significativo em direção à medicina personalizada na saúde mental. Combinada com uma avaliação clínica cuidadosa, ela permite que os tratamentos sejam adaptados de forma mais precisa às necessidades de cada indivíduo. À medida que essa tecnologia se torna mais acessível e difundida, esperamos ver uma redução significativa no tempo de tratamento e uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes.


Como psiquiatra, minha missão é não apenas tratar, mas entender profundamente cada paciente. A farmacogenética é uma ferramenta que nos ajuda a compreender melhor as complexidades biológicas de cada pessoa, possibilitando que possamos oferecer tratamentos mais eficazes e menos invasivos.


Se você ou alguém que conhece está lutando para encontrar o tratamento certo, considere discutir a possibilidade de testes farmacogenéticos com seu médico. Pode ser a chave para um caminho mais curto e seguro em direção à recuperação.


Dra. Rochelle Marquetto é psiquiatra especializado em tratamento de transtornos de humor e ansiedade, com interesse em abordagens inovadoras e personalizadas na prática psiquiátrica.


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